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Lição de qualidade por um artista de rua


Parado no carro em um semáforo fechado, vi certa vez um artista de rua se posicionar sobre a faixa de pedestres para fazer sua apresentação, na esperança de ser recompensado pelos ocupantes dos veículos ali parados.

A apresentação evoluiu bem, com crescente grau de dificuldade até que, num instante fatídico, um dos malabares caiu, sem tempo para mais uma tentativa antes que o semáforo abrisse.

Finda a apresentação, o artista não circulou dentre os veículos em busca de recompensa. Visivelmente contrariado, recuou até a calçada resmungando absorto em seus pensamentos.

Como o semáforo ainda estava fechado, chamei-o acenando com algum dinheiro, pois valorizei a autocrítica do artista.

À distância pude vê-lo respeitosamente gesticular recusando minha recompensa e já se preparando para a apresentação seguinte, enquanto os outros veículos já começavam a se movimentar.

Ou seja, ele não apenas deixou de buscar recompensa, como recusou a que lhe foi oferecida, inarredável em sua convicção de não ser recompensado por um serviço que ele próprio não considerou à altura dos seus padrões.

Quantas empresas ou prestadores de serviços exibiriam tamanha integridade em situação análoga, recusando pagamento por uma contrapartida que o cliente se dispôs a aceitar?

Quantas podem se orgulhar de manter padrões de qualidade superiores a qualquer expectativa razoável dos clientes?

Voltei àquele cruzamento algumas vezes, no intuito de agradecer ao artista por essa memorável aula prática de qualidade, mas ainda não o reencontrei.

Lição aprendida? Quando os seus padrões de qualidade forem mais exigentes que qualquer expectativa razoável dos seus clientes, e você conseguir monitorá-los com implacável autocrítica, sua capacidade de melhorar sem depender de reclamações será admirada por seus clientes.

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